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Channel: André Dib » oscar-2012
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Questão de princípios

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E a serpente morde a cauda. Ao premiar O artista nas categorias principais, o Oscar volta ao fim dos anos 1920, ano em que foi criado o premio da Academia de Artes Cinematograficas de Hollywood. Mesma época do advento do cinema sonoro, pano de fundo do filme de Michel Hazanavicius, produção francesa coroada como melhor filme, direção, ator (Jean Dujardin), figurino e trilha sonora.

Ano passado, O Discurso do Rei, outro filme estrangeiro, ganhou os premios principais. Sinal de que, mais do que nunca, Hollywood precisa do mundo para encontrar seu cinema. Entre as premiações, vinhetas com atores e diretores, sob fundo preto, falando sobre como conheceram o cinema e o que ele representa para suas vidas, questão parece crucial, em momento de crise de identidade.
Dai a atenção especial para O Artista e As invenções de Hugo Cabret, que tem definições sólidas sobre o assunto. São filmes sobre a importância de ir ao cinema, de ter a experiencia da sala de projeção. Questão de sobrevivência para a indústria, ameaçada pelo conforto doméstico-digital dos home theaters, downloads e streamings. Não é um discurso vazio, já que defendido por dois grandes filmes, que fazem  valer a pena uma ida ao cinema.
É importante perceber que O Artista valoriza a narrativa puramente visual, de  recursos mínimos. Ao mesmo tempo, trata das mudanças trazidas por uma nova tecnologia, no mercado e na linguagem artística, assunto urgente em tempos de cinema digital. No entanto, é um o filme a moda antiga, que não consegue dialogar com grandes plateias e só foi engolido pelas salas de shopping por conta da premiação.
Melhor fotografia e direção de arte, Hugo,  paga tributo aos primórdios do cinema e seus inventores, os irmãos Lumière e George Melies. Produto da era 3D digital, o filme de Martin Scorsese aponta saidas dignas para o cinema comercial, que precisa respeitar e ter mais carinho com sua historia, sem virar as costas para o avanço tecnológico. A história do cinema está ali. Lumière foi o início do cinema calcado na realidade, documental, técnico. E Melies, do cinema de fantasia, inventado e feito à mão. Tudo o que veio depois foi desdobramento disso.
Hugo estabelece bons parâmetros para que a era digital tenha referências e encontre seu lugar na história. Diz que para seguir em frente, é preciso saber de onde veio. E que o cinema pode ser bem melhor do que vem se mostrando ultimamente. Isso é tudo o que Hollywood precisa no momento. Pena que a Academia não reconheceu isso como deveria.


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